Leitura da Torá: Porção Semanal: Parashá Vayicrá (28/03)

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Sacrifícios 101
 
 
por Rabino Danny Gimpel

 

O terceiro livro da Torá, Sefer Vayicrá, cuja leitura iniciamos esta semana, é também chamado por nossos sábios de "Torat Cohanim – a lei dos sacerdotes". Este nome é bem apropriado devido ao enorme número de leis e detalhes dos serviços sacrificiais dos Cohanim no Mishcan que são elucidados neste livro. Para muitos em nossa sociedade ocidental, o conceito de sacrifício animal é difícil de compreender, e a maioria das pessoas atribui tais práticas às civilizações primitivas. Talvez para melhor entendermos o papel do sacrifício animal devêssemos tentar determinar o objetivo de um sacrifício. O primeiro passo seria entender a palavra hebraica para sacrifício, "korban," que vem da mesma raiz da palavra "karov – aproximar-se." Um corban é um meio pelo qual nos aproximamos de D’us.

Quando alguém nos aborrece, nossa reação usual é ficarmos furiosos, e devido a isso nos distanciamos daquela pessoa. Ficamos desgostosos com ela, até que terminamos por perdoá-la e esquecemos, ou até sermos aplacados. Da mesma forma, quando pecamos nos distanciamos de D’us por causa de nossas ações desagradáveis, que prejudicam nosso relacionamento com Ele. Os korbanot proporcionam um meio de reparar este relacionamento prejudicado, aproximando-nos novamente de D’us. Porém, como podemos de alguma forma entender que sacrificar um animal de verdade pode nos levar a esta proximidade com D’us?

Vários comentaristas explicam que o sacrifício de um animal é para representar aquilo que o transgressor realmente merece por violar a ordem de D’us, e o animal serve como substituto para a punição do ofensor. Quando a pessoa vê o korban sobre o altar, deve visualizar a si mesma no lugar do animal, um pensamento que deveria despertar sentimentos de teshuvá. O ato de abater um animal também desempenha um papel na retribuição do pecador nas cortes celestiais, atingindo um certo grau de perdão.

Talvez utilizando uma abordagem diferente ao entendimento do sacrifício animal, possamos ganhar algum senso de valorização por aquilo que foi expresso por um ato como esse. Para desenvolver um relacionamento bem sucedido entre marido e mulher, cada um deve preocupar-se com as necessidades do outro, e possuir a habilidade de doar-se ao parceiro. Esta doação pode muitas vezes conflitar com seus próprios desejos e necessidades, porém o "sacrifício" do próprio interesse para apoiar e prover o outro reforça o relacionamento com sentimentos de amor, dependência e dedicação. Se conseguíssemos nos imaginar vivendo em uma sociedade agrícola, e o rebanho fosse nosso maior bem, sentiríamos o sacrifício que é separar-nos de nossa possessão mais valorizada ao oferecê-la a D’us. Este sacrifício seria então visto como castigo, ou, caso trazido voluntariamente, cultivaria sentimentos de amor através da doação de si mesmo a D’us. É difícil entender o "prazer" que D’us tem com este sacrifício, mas a dimensão humana de doar nos aproxima de D’us em um sentido muito real.

Esta mesma proximidade pode ser conseguida hoje, mesmo sem os sacrifícios, através do oferecimento de nós mesmos. O Rambam escreve que a maior das mitsvot positivas da Torá é a de fazer caridade, porque traz a unificação do povo judeu, que ele afirma finalmente nos levará à chegada de Mashiach. Das lições extraídas dos sacrifícios, resolvamos ajudar nosso próximo judeu em necessidade, enquanto ao mesmo tempo nós nos tornamos melhores seres humanos.

 
Ataque gratuito
 
 por Rabi Shimon Wiggins
 
Examinando o primeiro confronto entre o povo judeu e a nação de Amalec (Shemot 17:8-16) sobre o qual lemos em Shabat Zachor nesta semana que antecede Purim, duas perguntas básicas nos vêm à mente. Primeira, por que Amalec atacou os Filhos de Israel sem provocação? O versículo simplesmente relata que Amalec atacou os Filhos de Israel num local chamado Refidim, mas o que motivou este ataque? Segundo, por que eles mereceram esta súbita punição? 

A primeira pergunta é respondida pelo Midrash, que compara o povo judeu a uma banheira de água fervente. Assim como ninguém ousa pular num recipiente de água fervente por medo de ser escaldado até a morte, assim também os judeus eram aparentemente invencíveis após seu milagroso êxodo, quando então as nações do mundo reagiam a eles com temor e respeito. 

Ninguém ousava atacar o povo que tinha D’us a seu lado – exceto Amalec. Certa vez ele atacou, e embora tenha perdido, deram um jeito de esfriar a água para que outras nações também pulassem dentro sem medo de ser queimadas. 

O que deu a Amalec a força para nos atacar? Rabi Yitschac Hutner desenvolve a resposta à primeira questão de outro Midrash, que compara Amalec a uma pessoa que zomba e ridiculariza tudo na vida. Uma personalidade assim procura toda oportunidade de minar e diminuir o que é importante e valioso na sociedade. 

As Dez Pragas, a Abertura do Mar Vermelho, a destruição do Egito, o maná caindo do céu – todos estes eventos que haviam criado um senso de reverência e trepidação nas outras nações em relação aos judeus, fazendo a água da banheira mais e mais quente, apenas aumentou o desejo de Amalec de ser o primeiro povo a pular dentro. Para Amalec esta banheira fervente de grandeza, espiritualidade e nobreza tinha de ser esfriada, independentemente das conseqüências. 

Voltemos agora a nossa segunda questão. Por que os judeus mereceram ser atacados por Amalec? 

A chave para entender esta falha específica é o nome da localidade onde Amalec atacou-nos – Refidim. Embora num nível simples este nome seja meramente uma localização geográfica, o Midrash nos diz que é um acrônimo para "rafu y’dayhem min haTorah – as mãos do povo judeu foram fracas no seu apoio à Torá." 

O que significa esta expressão? O termo costumeiro para a falta de estudo de Torá é bitul Torah, negligenciar o estudo de Torá. Qual é então a idéia por trás de dizer que suas mãos eram fracas no seu apoio à Torá?

Rabi Yitschac Hutner explica que esta expressão refere-se a uma fraqueza em reconhecer e apreciar a importância e relevância da Torá em nossa vida. Quando deixamos de perceber como a Torá é vital para nossa própria existência e para a existência do mundo inteiro, estamos convidando Amalec a entrar em nosso meio.

Não apenas devemos estar preocupados com o quanto de Torá aprendemos, mas também com quanto valor e importância atribuímos à Torá que estudamos. 

Percebemos que a Torá é sabedoria Divina? Percebemos que a Torá sustenta o mundo inteiro? Percebemos que a suprema perfeição do mundo apenas pode chegar através da Torá? 

Que D’us nos ajude a aumentar nosso tempo de estudo de Torá e a avaliar sua verdadeira e ilimitada grandeza.

 
 
 
 
 
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